Reflexão Pessoal - Memento

12-03-2013 20:01

 

Memento

 A memória é o suporte essencial de todos os processos de aprendizagem, pois é ela que conserva aquilo que se aprendeu, permitindo ao ser humano um sistema de referências relativas à sua experiência vivida e ao reconhecimento de si como pessoa dotada de identidade própria, é um processo cognitivo que consiste na retenção e na evocação das informações, conhecimentos, acontecimentos, expectativas, conceitos, ideias, sentimentos, etc.

    O conceito de aprendizagem como mudança sistemática da conduta supõe implicitamente a memória como condição de conservação da resposta aprendida. Sem memória, as aprendizagens estariam permanentemente na fase de aquisição, o que equivale a dizer que estaríamos sempre no ponto zero. Não ter memória seria o mesmo que não ter aprendido nada, deixaríamos de ser aquilo que somos, aquilo que somos, que fomos e que seremos depende em grande parte da memória. É este património individual que nos torna únicos e nos assegura a nossa identidade pessoal. É a memória que nos permite representar o mundo.

Neste filme, “Memento”, temos a comprovação de que a memória tem uma função muito importante na nossa vida. Este filme conta-nos a história de Leonard que sofre de amnésia anterógrada, devido a uma pancada que levou na cabeça dada pelo criminoso que violou e, supostamente, matou a sua mulher. A amnésia anterógrada deve-se a um traumatismo cerebral e caracteriza-se pela inaptidão de lembrar novas informações, lembranças de experiências recentes desaparecem, mas o doente consegue lembrar todos os eventos anteriores ao traumatismo. Durante o filme, Leonard procura o assassino para ele próprio fazer justiça. Como não consegue lembrar de nada por mais de alguns minutos Leonard faz anotações de tudo o que vê, ouve e até das coisas mais rotineiras, como fazer a barba, pois este esquece tudo ao fim de alguns minutos A sua memória é registada em fotos Polaroid e as mais cruciais são tatuadas em seu corpo, muitas vezes por ele mesmo. Durante esta desesperada busca, ele conhece o ambíguo Teddy, que diz ser policia, e a Natalie que promete ajudá-lo, porém, dá indicações que o está somente a usar para o seu próprio interesse.

Leonard tem na sua mão esquerda uma tatuagem a dizer "remenber Sammy Jankis". Sammy também tem amnésia anterógrada depois de um acidente. Mas podemo-nos questionar se existem mesmo esse tal de Sammy Jankis, no filme existem ideias contraditórias do facto de este existir. Quando Leonard está no motel fala de um caso muito importante que ele investigou a fundo pessoalmente, pois trabalhava numa seguradora e interessava saber de Sammy Jankins era realmente uma pessoa doente e incapaz, ou se era um impostor. O próprio Leonard engana-se, pois acho que o Sammy era um impostor o que levou à morte da esposa o Sammy.

                No final do filme, perguntamo-nos se a história de Sammy é a história de Leonard, as memórias que este contém do passado, podem ter sido alteradas por ele, fazendo assim uma história completamente oposta aquela que aconteceu no seu passado. Isto deve-se à nossa memória não ser exacta, logo não reproduz o passado correctamente, uma vez que, as recordações estão marcadas pela experiência, pelas emoções, pelos afectos, pelas representações sociais. A memória reconstrói os dados que recebe ao longo do tempo dando evidência a uns, e apagando outros. Há como que uma idealização do passado. Até o próprio Teddy foi influenciando o passado do Leonard. Isto ainda nos causa mais questões na nossa cabeça, será que a mulher de Leonard é que sofria de diabetes?

 

 

 

 

 

 

Será que foi Leonard a matá-la? Quando Leonard belisca a sua mulher poderá ser uma memória de estar a injecta-la, só que essa memória está distorcida. A última memória de Leonard foi ver a sua mulher com o saco na cabeça e pensado que ela estava morta e em seguida levou uma pancada na cabeça. Como este a viu como morta antes da pancada, mesmo que ela tivesse sobrevivido ele não se poderia lembrar dela, sendo-lhe uma pessoa estranha. Com isto ainda podemos afirmar mais consistentemente de que a história de Sammy é na verdade a de Leonard.

Encontrar o assassino vai depender se este se encontra registrado nos arquivos de Leonard, isto é, entre os documentos que ele sempre carrega consigo, incluindo um relatório de polícia ao qual, entretanto, faltam doze páginas (quem as teria arrancado?), o que compromete sua credibilidade (os documentos escritos são mais confiáveis que a memória? Para o protagonista, sim). Tendo perdido a sua memória, Leonard somente pode contar com as informações que lhes são passadas pelas outras personagens, além dos arquivos.

Neste filme há uma grande ideia de que a memória não é fiável, até o próprio Leonard o diz, sendo para ele muito mais importante um facto do que uma testemunha ocular, pois a nossa memória pode alterar o que nós vemos. Apesar de a memória ser a faculdade que nos permite a aprendizagem não podemos confiar nela a cem por cento.

Teddy no final do filme revela várias coisas sobre Leonard, como por exemplo o facto de Leonard já ter morto o suposto assassino. Mas devido à deficiência mental de Leonard este não se pode lembrar desse feito, entrando num ciclo vicioso pela procura do assassino, mesmo que se vingue continuará a procurá-lo. Com isto podemos afirmar que Leonard não tem capacidades básicas para viver em sociedade, pois sem a memória não pode assimilar novas coisas, e sendo um cidadão perigoso que só se orienta por factos. Leonard é alvo de manipulação dos outros é um herói manipulado, procurando vingar-se de um ato que já foi vingado, uma pessoa que jamais terá consciência plena das suas acções. Vive pois num purgatório temporal infinito, que é o tempo de uma vingança eterna sem resgate possível.

Este filme procura fazer-nos auto questionar, exigindo atenção e uma grande reflexão crítica. Ao acabarmos a nossa reflexão mental sobre este filme, chegamos à conclusão de que a memória é o que nos torna humanos. Esta confirmação, por sua vez, nos confere um sentido de identidade, pois saber o que fomos, confirma o que somos. Ao conhecer o passado ligamo-nos aos homens que viveram antes de nós, construindo uma noção de continuidade, portanto somos aquilo que completa, e o que inicia um caminho para diversas soluções.

 

Bernardo Jacob nº3 12ºA